Você me deu um livro. Foi durante uma daquelas viagens apressadas que quando a gente se via já tinha que dizer tchau que é para não perder o avião. Porque avião embarca e bye bye. Não é feito ônibus que com um pouco de sorte você dá uns tapas e o motorista pára e deixa você subir - ou parou mesmo foi pra quebrar a sua cara.
O tal do livro era o "O Morro dos Ventos Uivantes", em capa estilo clássico porque você realmente tinha um Q de outra época. Hoje não, hoje você fuma cigarro e bebe cerveja e divide um quartinho como qualquer jovem que se muda pra São Paulo. Sou preconceituosa e julgo as obras pelo nome, e "O Morro dos Ventos Uivantes", convenhamos, não abre o apetite de seu ninguém. Nada pessoal, foi a mesma coisa quando você recomendou "Knulpy", do Herman Hesse. E eu experimentei com a cara e a coragem, morrendo de medo de ter que dizer depois que o gosto da gente não tinha nada a ver. Mas tinha e se não tivesse talvez fosse mais fácil.
Fui ler o tal do Morro. Ou dos ventos; ou dos uivos; nem sei mais. Comecei a gostar e comecei a gostar muito. Não sei se o livro era assim tão bom - já faz tanto tempo! - ou se, em parte, me agradava a idéia de apreciar um presente dado por você. A cada página, uma tentativa de chegar mais perto. Quando de repente tive que parar.
Acontece que faltaram algumas páginas no livro, umas 5 pelo menos. Fizeram de maldade ou simplesmente esqueceram de imprimir, mas de qualquer forma fiquei lá com cara de imbecil sem poder continuar a história mas também já tendo lido mais da metade. E eu queria tanto poder ler o resto.
Daí lembrei de como faltou algumas páginas pra gente também. Sou boba, fico vendo mensagens do destino em tudo; faço metáfora até com uma goma de mascar. Um hábito terrível, diga-se de passagem.
Agora mesmo, pouco lembro do livro. Pouco sei de você. Só recordo direitinho da dedicatória, que dizia: "One of these days... I'm gonna love you all the time".
Marquei as páginas pra lembrar.
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